De repente a escuridão se faz total.
A casa, a rua, o bairro vira um breu.
A correria começa pela casa em busca de velas,
a mulher reclama porque alguém estava brincando com a vela e tirou do lugar,
o pai reclama pois o ventilador desligou,
os filhos por que a televisão foi desligada no melhor momento do programa.
A escuridão e as reclamações espalham-se pelas demais casas, já que sabem que o bairro vai ficar no escuro pelas próximas horas
e que a noite será longa e mal dormida,
as ligações para a concessionaria de energia serão em vão.
Aqui é periferia,
zona vermelha e serão apenas “um bando de baixa renda” que vão dormir no escuro.
A escuridão é a periferia são velhas conhecidas.
Convivem juntas como irmãs siamesas.
Como o Yin yang de uma única cor.
É na escuridão das ruas da periferia que andamos, pisando em lama, tropeçando em buracos.
É na escuridão que vive, morre-se e mata-se.
É na escuridão das casas simples que a fome é dividida com o pouco pão.
É na escuridão que residem os esquecidos, descamisados, drogados, prostituídos.
É na escuridão da ilegalidade que se faz comércio, que se entorpecem os sentidos e a vida.
É na escuridão onde se corrompe os costumes e os fardados.
É na escuridão onde se espanca, apanha-se, rasga-se a humanidade.
É na escuridão que se trepa, estrepa-se, produz e reproduz-se.
É na escuridão....do esquecimento,
do sofrimento,
dos dias e noites que nos tornam invisíveis,
mesmo a luz do dia.
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