Contratado como gerente administrativo pelo hotel Saint Peter, em Brasília (DF), com salário inicial de R$ 20 mil mensais, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu terá remuneração bem distante da realidade da categoria.
O salário inicial médio para gerentes administrativos em Brasília, para ocupar vagas em grandes redes, é de R$ 5.000 com carteira assinada — um quarto dos R$ 20 mil que vão para o bolso de Dirceu todo mês. A estimativa é do Sindhobar (Sindicato dos Bares, Hotéis e Similares do Distrito Federal).
O sindicato afirma que não há como estimar valores exatos para os cargos ocupados por funcionários da hotelaria no Distrito Federal. Mas, segundo o órgão, a tendência é que profissionais com amplo conhecimento do hotel — e que tenham passado por diversas áreas de um estabelecimento do setor ao longo da carreira — podem receber entre R$ 5.000 e R$ 15 mil, dependendo do grau de conhecimento e expertise sobre o negócio.
Assim como ocorre em outras profissões na capital federal, o salário é maior que em outras regiões do País. No entanto, nada justifica um salário tão elevado como o de Dirceu. Vale lembrar também que a remuneração de um gerente sobe à medida que ele adquire experiência e conhecimento do setor.
Condenado a mais de sete anos de prisão, Dirceu cumpre pena em regime semiaberto, que permite ao ex-ministro trabalhar durante o dia e dormir na cadeia. Apesar de ter grande experiência política, atuar em cargos de liderança e de articulação, Dirceu não tem conhecimentos específicos em hotelaria.
Exceções
Em casos específicos, segundo o Sindhobar, o salário pode superar em muito a média de R$ 5.000. No entanto, esses profissionais têm que ter amplo conhecimento sobre o empreendimento e, normalmente, assumem cargos de confiança sobre toda a rede de hotéis.
Esse não parece ser o caso de José Dirceu. Ele é formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e, além de experiências políticas cravadas em seu currículo, não há nenhuma menção sobre conhecimentos de serviços de hotelaria.
Na ficha de solicitação de emprego, Dirceu diz que está se candidatando à vaga por "necessidade e por apreciar hotelaria e área administrativa".
O salário de Dirceu é 11 vezes maior do que o da gerente que o contratou. Ela ganhava, no ano passado, R$ 1.800.Páginas eletrônicas que oferecem empregos na internet divulgam vagas com salário com média de R$ 3.500 — a vaga com maior remuneração promete R$ 8.000 por mês.
Salário dividido
O salário de R$ 20 mil, no entanto, não vai integralmente para o bolso de Dirceu. Segundo a Lei de Execução Penal, o salário recebido pelo detento deverá ser usado para pagar os danos causados pelo crime, dar assistência à família do preso, pagar pequenas despesas pessoais e ressarcir ao Estado as despesas com a manutenção do condenado.
O valor que será destinado a cada um dos itens deverá ser calculado pela Vara de Execuções Penais. Outra parte do salário, ainda a ser definida, será depositada em uma conta poupança, que será entregue ao mensaleiro assim que ele terminar de cumprir a pena.
Rotina
Além do trabalho no hotel, Dirceu não poderá fazer nenhuma outra atividade. Ele deverá sair do Complexo Penitenciário da Papuda às 7h da manhã e retornar às 19h. Além disso, segundo a Lei de Execução Penal, Dirceu poderá se deslocar do local de trabalho até 100 metros, durante o horário de almoço, para fazer suas refeições, com autorização do empregador, e não poderá almoçar em residência de familiares.
Por causa da restrição, Dirceu não poderá, por exemplo, usar almoçar com colegas petistas na Esplanada dos Ministérios, que fica a cerca de 3 km do hotel Saint Peter, local em que vai trabalhar.
O expediente de Dirceu vai das 8h às 17h e, como gerente administrativo, o ex-ministro vai desempenhar funções como: monitorar a qualidade dos serviços prestados no hotel, cuidar dos resultados econômicos/financeiros da unidade e comandar a área de recursos humanos.
Se o emprego for autorizado pela Justiça, Dirceu terá muito trabalho. Além de ter que aprender sobre suas novas funções, terá que gerenciar, segundo o próprio site, "o maior hotel da área central de Brasília".
O local tem 427 apartamentos, incluindo 16 quartos adaptados para portadores de necessidades especiais, além de auditórios e espaços para eventos. As diárias variam de R$ 440 a R$ 630.
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